A proposta de Reforma Tributária em curso no Brasil apresenta profundas implicações jurídicas, especialmente no âmbito do planejamento sucessório e da preservação patrimonial familiar. A alteração do regime de tributação sobre heranças e doações, aliada à criação do Comitê Gestor de Impostos, instaura um novo cenário que requer atenção especial das famílias e de seus assessores jurídicos no que tange à estruturação patrimonial. Além disso, o aumento das alíquotas e a possível uniformização de tributos entre estados trazem desafios que exigem estratégias jurídicas sofisticadas para garantir a eficiência fiscal e a continuidade do patrimônio familiar.

1. Cenário Atual da Reforma Tributária e Sucessão Familiar

As recentes propostas para a Reforma Tributária têm sido discutidas de forma intensiva em diversos fóruns nacionais e internacionais. Entre os pontos mais relevantes está a discussão sobre a majoração do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), cujo teto constitucional atual de 8% pode ser elevado para até 16%, o que geraria um impacto substancial sobre o planejamento sucessório. Segundo especialistas, essa mudança reflete a necessidade de o governo ajustar a tributação sobre grandes fortunas e garantir maior arrecadação, em consonância com tendências globais, como as discutidas no G20.

A centralização da administração tributária por meio do Comitê Gestor de Impostos é uma das inovações mais marcantes da reforma. Este órgão unificará a gestão dos tributos em todo o território nacional, buscando reduzir as disparidades regionais e assegurar maior uniformidade na aplicação das leis fiscais. Do ponto de vista jurídico, isso significa que as famílias não poderão mais se valer das diferenças entre as alíquotas estaduais para minimizar a carga tributária de heranças e doações. A uniformização poderá garantir maior segurança jurídica, mas também eliminará a prática de planejamento sucessório em estados com menores alíquotas, demandando novas abordagens para mitigar os impactos fiscais.

2. Taxação sobre Grandes Fortunas e seus Efeitos no Planejamento Patrimonial

Outra questão central que vem sendo debatida em nível nacional e internacional é a proposta de taxação sobre grandes fortunas, sugerida inicialmente com uma alíquota de 15%. Essa medida, discutida pelo Ministério da Fazenda e levada ao G20, segue uma tendência de tributação mais pesada sobre o patrimônio das famílias mais abastadas, que poderá alterar significativamente o planejamento patrimonial, especialmente no contexto de sucessão familiar. No entanto, sua implementação deve ser analisada sob o prisma da Constituição Federal, que exige uma lei complementar para regulamentar o imposto sobre grandes fortunas (art. 153, inciso VII).

A efetiva introdução dessa taxação pode tornar o processo de inventário ainda mais custoso, tanto financeiramente quanto emocionalmente, uma vez que, somados os tributos sobre heranças, doações e outros custos processuais, o montante devido pode ultrapassar 40% do valor total dos bens transmitidos. Em termos práticos, isso significa que, sem o devido planejamento jurídico e patrimonial, a sucessão pode comprometer consideravelmente o valor herdado pelos sucessores.

3. Estratégias Jurídicas para Mitigação de Impactos: Holding Familiar

Diante do cenário de incerteza e potencial aumento da carga tributária, a constituição de Holdings Familiares tem se consolidado como uma das principais estratégias de planejamento sucessório. No contexto jurídico, a Holding Familiar se apresenta como uma solução eficiente, permitindo a centralização da gestão de bens, a proteção patrimonial e a sucessão planejada entre gerações. O uso desse veículo jurídico possibilita, além da proteção contra o aumento de tributos, a profissionalização da gestão dos negócios e a redução de conflitos familiares, especialmente em casos de inventários complexos.

Do ponto de vista técnico-jurídico, a Holding pode ser estruturada de forma a minimizar o impacto de impostos sobre heranças e doações, além de permitir um planejamento patrimonial mais eficiente ao longo das gerações. A criação de uma Holding facilita a divisão de cotas entre herdeiros, evitando a divisão direta de bens e permitindo maior controle e preservação do patrimônio familiar, reduzindo a exposição às novas regras tributárias.

4. Impactos e Oportunidades para o Futuro do Planejamento Sucessório

Reforma Tributária representa tanto desafios quanto oportunidades para o planejamento sucessório no Brasil. Se por um lado o aumento das alíquotas e a uniformização dos tributos sobre heranças e doações podem gerar maiores custos, por outro lado, essas mudanças forçam as famílias a adotarem uma visão mais estratégica sobre a sucessão, tornando-a mais profissional e eficiente.

Um acompanhamento jurídico constante e profundo das mudanças legislativas será essencial para que as famílias possam adaptar suas estratégias de forma proativa, mitigando os impactos negativos da reforma e aproveitando oportunidades para preservar o patrimônio. Além disso, com a centralização da fiscalização e o aumento da carga tributária, espera-se que o uso de mecanismos como testamentosdoações em vida, e estruturas jurídicas como fundos patrimoniais (trusts) possam ganhar relevância no Brasil, ampliando o leque de estratégias de proteção patrimonial.

5. Considerações Finais

Reforma Tributária impõe novos desafios ao planejamento sucessório no Brasil, especialmente no que tange ao aumento da tributação sobre heranças e doações e à uniformização das alíquotas regionais. Em resposta, as famílias precisarão adotar estratégias jurídicas mais sofisticadas, como a constituição de Holdings Familiares, para proteger o patrimônio e assegurar sua sucessão ao longo das gerações.

O cenário atual exige uma análise minuciosa das mudanças em curso e a adaptação contínua às novas realidades fiscais, reforçando a importância do assessoramento jurídico especializado para garantir a preservação e a longevidade do patrimônio familiar. A reforma, ao mesmo tempo em que apresenta desafios significativos, também traz oportunidades para modernizar as práticas de gestão e sucessão patrimonial, com o objetivo de enfrentar um futuro tributário mais rigoroso e complexo.

Rodrigo Borges é advogado e sócio do escritório Borges & Melo. Além de possuir ampla experiência na constituição de holdings familiares, sua atuação abrange diversas áreas do Direito, como Direito Societário, Falência e Recuperação Judicial, além de Direito Tributário.

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